segunda-feira, 11 de março de 2013

"A governadora age para os ricos", declara a vereadora Amanda Gurgel


Amanda Gurgel, vereadora do PSTU em NatalAmanda Gurgel, vereadora do PSTU em NatalO Mossoroense: A senhora já parou para pensar que se tornou a vereadora mais votada da história do Rio Grande do Norte?
Amanda Gurgel: Sempre me pego pensando nisso. E vejo com muito orgulho esse posto. Foram quase trinta e três mil votos de trabalhadores, jovens e mulheres que se indignaram e deram um basta na velha política. Mais do que votos, o que está em jogo são os sonhos das pessoas. Sei da responsabilidade que tenho agora e tenho procurado fazer valer cada minuto lá dentro, brigando pela educação, pela saúde, pelos direitos dos trabalhadores e das mulheres.
OM: Como o PSTU tem analisado esse seu desempenho histórico?
AG: O partido foi fundamental na vitória e tem acompanhado e contribuído neste início de mandato. Aqui, em Natal, e em Belém, onde também estamos na Câmara, com Cleber Rabelo, um operário da construção civil. Queremos usar esses dois mandatos para mostrar que o papel de uma trabalhadora e um trabalhador na Câmara é o de denunciar o que acontece e apoiar as lutas dos trabalhadores. Sabemos que aquilo lá não é a Casa do Povo, pois tanto a Câmara quanto o Congresso Nacional são controlados por uma maioria formada por representantes das empresas, que não estão ali para defender a população.


OM: Qual o peso da sua exposição nacional por conta do discurso do "cuscuz alegado" para esse desempenho?
AG: O vídeo teve muito impacto. Foi um desabafo. Mas o fato de ter sido na Assembleia Legislativa, diante da secretária de Educação e dos deputados, talvez tenha dado mais visibilidade. Não é todo dia que uma de nós levanta a cabeça e enfrenta os poderosos. Acho que o vídeo ganhou grande repercussão porque as pessoas se sentiram representadas pelo o que eu falei. E contribuiu, sim, para a votação, mas não foi o determinante. Acho que o que fez com que tivesse tantos votos foi o cansaço das pessoas com essa situação, com o caos do governo Micarla e com esses políticos que não nos representam. É como se dissessem: Chega. Vamos colocar alguém como a gente, que possa ser nossa voz lá dentro.
OM: Essa sua conquista serve para tornar o PSTU um partido mais forte no Estado?
AG: Com certeza. Meu partido, o PSTU, se fortalece nas lutas cotidianas dos trabalhadores, dos jovens e das mulheres. E ter um mandato é um apoio a mais na mobilização da população em defesa dos seus direitos, como saúde, educação, transporte, salário. Iremos usar o mandato não só para propor projetos de interesse dos trabalhadores, mas também para mostrar a eles que as verdadeiras mudanças de nossas vidas não vão passar pela Câmara. E queremos que as pessoas saibam que precisamos ter um partido forte, um partido que não tem manchas em sua bandeira, um partido que não tem nada a ver com os que estão por aí. A cada dia mais pessoas têm se filiado ao partido, têm atuado conosco, e isso nos enche de orgulho, porque a mudança não virá de uma só pessoa, de uma salvadora da pátria.
OM: A senhora pensa em disputar as eleições de 2014? Seria um cargo majoritário ou proporcional?
AG: Não estamos discutindo isso no momento, apesar dos pedidos para que me candidate. Mas, agora, estamos muito preocupados em fazer um bom mandato, à altura das expectativas das pessoas, que são muitas. E colocá-lo à disposição das lutas dos trabalhadores e trabalhadoras. Queremos desempenhar bem essa tarefa de mobilizar as pessoas para mudarem as próprias vidas.
OM: Como a senhora avalia o governo Rosalba Ciarlini?
AG: Infelizmente, a governadora Rosalba vai seguindo o mesmo caminho da ex-prefeita do Natal, Micarla. O descaso com os serviços públicos é um escândalo, mesmo com o Estado batendo recorde atrás de recorde de arrecadação do ICMS. A saúde estadual, por exemplo, está um caos, é só ver o Hospital Walfredo Gurgel, com as pessoas morrendo por falta de atendimento. A governadora age para os ricos, como no caso da entrega do Hospital da Mulher, em Mossoró, para ser administrado por uma empresa privada, e ainda por cima envolvida em corrupção. O RN é hoje o 2º Estado com mais desigualdade social em todo o País, além do DF. É por isso que 74% dos natalenses reprovam esse governo e já há protestos nas ruas pedindo o "Fora Rosalba".
OM: Na sua opinião, há avanços no campo da educação como o governo apregoa com o argumento de que reajustou em mais de 70% as remunerações dos professores?
AG: Acho que ainda estamos muito, mas muito distantes da valorização profissional. A Lei do Piso, que brigamos para que fosse cumprida, parece que é entendida pelos governos de outra maneira. O piso é o mínimo, o básico, abaixo disso é o absurdo do absurdo. Mas os governos tomam o mínimo como se fosse o teto. Ou seja, tentam passar a ideia de que pagando o piso, os professores estão valorizados. E não é assim.
Isso sem falar de uma série de outros aspectos, como a condição das escolas, a falta de professores em diversas disciplinas… Eu acho que o caos continua. A situação das escolas é muito diferente daquela que o Governo do Estado mostra na sua propaganda na TV. Qualquer professor se sente mal ao assistir àquele comercial.
OM: Indo para o mandato, o que podemos esperar de Amanda Gurgel atuando como vereadora em Natal?
AG: O povo se decepcionou muitas vezes. Muitos me dizem: "continue sendo quem você é". E eu digo que sou vereadora para mudar, e não para ser mudada. Por isso, vou continuar recebendo o mesmo salário de antes. Não vou mudar meu padrão de vida. Vou continuar sendo o que eu sou hoje, uma professora, uma trabalhadora, e que não consegue ficar calada diante do que está errado. Nosso mandato será isso, muita luta, muita denúncia daquilo que estiver errado.
Mas também queremos envolver a população, a juventude, as mulheres na luta política por suas reivindicações e na elaboração de projetos. Recentemente, realizamos um seminário sobre educação pública com a comunidade escolar, de onde saíram várias propostas que se transformaram em lutas e projetos de lei.
OM: Além da educação, em que outras áreas a senhora pretende atuar?
AG: A identificação de nosso mandato com a educação é inevitável, já que sou professora. E nós queremos isso, queremos que as pessoas reconheçam o mandato como um ponto de apoio na luta por uma educação pública de qualidade. Mas não vamos só atuar na educação. Nosso mandato já está bastante ativo em outras áreas também. Agora estamos muito envolvidos na luta pelo transporte público. Em agosto do ano passado, a empresa Riograndense faliu e a população do bairro Lagoa Azul, na Zona Norte de Natal, ficou completamente desassistida. A situação ficou ainda pior depois que a Secretaria de Mobilidade Urbana fundiu duas linhas. As pessoas estão há meses sem transporte e nada é feito pela Prefeitura para resolver o problema. As comunidades afetadas reivindicam o retorno imediato das linhas e nosso mandato está dando total apoio a essa luta e defendendo que o governo assuma estas linhas, garanta o direito das pessoas.
Estou fazendo parte da Comissão de Educação, Desportos e Cultura e da Comissão de Direitos Humanos, Trabalho e Minorias. Uma prioridade para mim é a defesa das mulheres. As mulheres estão cansadas de tanta violência, do machismo. Todos os dias vemos casos de mulheres agredidas ou mortas por homens, muitas vezes por ciúmes. Se formos analisar, vamos ver que a agressão nunca acontece do nada. Sempre começa com ameaças, com brigas, há sempre um histórico de opressão. Muitas denunciam, antes do pior, mas o Estado não oferece condições para que ela possa ficar livre do agressor.
Meu mandato será um mandato das mulheres, defendendo casas-abrigo, políticas de proteção e emprego para as mulheres trabalhadoras. Agora mesmo, no dia 6 de março, faremos uma audiência pública na Câmara, com os movimentos de mulheres, para discutir a situação da violência em Natal, que se repete em todo o Estado. Mesmo governado por uma mulher…
OM: O que a senhora espera do governo de Carlos Eduardo?
AG: O prefeito assumiu prometendo "salvar a cidade". É até possível que consiga tirar o lixo da rua e tapar buracos. Vai ser difícil governar pior do que Micarla. Mas o caos de hoje não serve como comparação. Não dá pra ficar olhando o tempo todo para o passado. E, se for assim, Carlos Eduardo já foi prefeito. Basta lembrar os reajustes de passagem e os gastos na Educação, abaixo da lei, para ver o que nos espera. O prefeito faz parte das oligarquias que governaram Natal. Micarla foi sua vice! Ele também é responsável pelo caos de hoje.
Nós, do PSTU, somos oposição. Vamos cobrar muito desse governo. E já estamos cobrando. Nesta semana a secretária de Educação vai até a Câmara, por um pedido meu, aprovado em Plenário, dar esclarecimentos sobre a situação dos trabalhadores terceirizados. São mais de 300 trabalhadores, a maioria mulheres, que estão sendo demitidas, depois de ficarem quatro meses sem salário.
Na mensagem anual na Câmara, o prefeito chamou os vereadores a fazerem um pacto para reconstruir Natal. Mas reconstruir para quem? A Copa do Mundo é um exemplo. O que vai ficar para Natal? O que vai mudar realmente na vida das pessoas, além das dívidas assumidas e de um lindo estádio? Queremos reconstruir a cidade sim, mas o governo tem de ser para os trabalhadores. Vamos chamar os trabalhadores e jovens a não aceitar nenhum direito a menos, não aceitar aumento na passagem de ônibus e a exigir a saúde e a educação públicas funcionando, com qualidade e bons salários para os servidores.
OM: O eleitorado do Rio Grande do Norte tem optado por candidatos de perfil conservador. Na sua opinião, por que é tão difícil se construir uma alternativa de esquerda no Estado?
AG: Acho que, de um lado, por causa do peso das oligarquias. Esses caciques e velhos políticos ajudam a manter uma prática política ultrapassada, com compra de votos, favores. E isso não acaba da noite para o dia. Mas está mudando. Na eleição, fiquei muito feliz de ver como a consciência das pessoas tem avançado. Muitas pessoas vinham me dizer que iam votar em mim e que, pela primeira vez, estavam votando sem ganhar nada em troca. Isso é uma semente que não tem volta.
Infelizmente, o PT tem aberto mão de ser essa alternativa estadual. Basta ver a eleição no Congresso Nacional, onde o apoio deste partido foi decisivo para a eleição de Henrique Eduardo Alves como presidente da Câmara e de Renan Calheiros no Congresso.
OM: O PSTU deve seguir com a parceria com o PSOL nas eleições do próximo ano?
AM: Ainda não discutimos e acredito que nem o PSOL tenha conseguido parar para pensar nisso. Estamos todos muito envolvidos com os mandatos e as lutas que estão ocorrendo. Mas, nacionalmente, o nosso partido só se alia com partidos formados por trabalhadores, como o PSOL e o PCB. Esse arco de alianças não irá mudar. Não iremos abrir mão dessa independência, para poder ter mais chances eleitorais. Do mesmo jeito que não aceitamos doações de empresas.
Bruno Barreto
Editor de Política
Jornal o mossoroense

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