domingo, 24 de março de 2013

"Somos todos contra Rosalba, mas somos a favor de quê?", questiona Mineiro


Deputado Mineiro defende alternativas ao DEMDeputado Mineiro defende alternativas ao DEMO Mossoroense: Como o senhor está analisando o início dos trabalhos da Assembleia Legislativa?
Fernando Mineiro: Nós retornamos num ano bastante complexo diante de todo um processo de muita imobilidade do Governo do Estado, diante de um estado que vive diante de uma seca que é a mais dura dos últimos 45 anos. Eu acho que a Assembleia terá um papel muito importante este ano no sentido de cobrar as ações e de dialogar com a sociedade.
OM: Na sexta-feira o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, esteve em Natal. O que isso pode gerar de parcerias para o Rio Grande do Norte?
FM: O ministro veio colocar o ministério e os programas ministeriais à disposição do Governo do Estado. Agora o Governo do Estado precisa fazer a sua parte. O Governo do Estado deixou de arrecadar e ter muitos recursos em todas as áreas, particularmente na área da saúde, porque tem uma concepção da terceirização, da privatização. Enquanto o ministro visitava o Walfredo Gurgel, eu estava num exemplo de terceirização que é o Hospital da Mulher, aqui, em Mossoró. Você acompanhou e sabe muito bem que desde o início eu dizia que esse modelo não tinha sustentabilidade e era inseguro para a população. Um serviço tão necessário que foi entregue dessa maneira para favorecer um grupo que tomou conta durante muito tempo daquele hospital. Eu quero reforçar isso. O Governo Federal disponibiliza recursos para todas as áreas, inclusive a da saúde, mas precisa de projeto. Nesse sentido o governo Rosalba é uma nulidade absoluta. Não apresenta projetos. Enquanto a gente vê Estados vizinhos apresentando projetos de infraestrutura e de investimentos, aqui andamos para trás. É preciso que o governo apresente projetos porque não adianta boa vontade do ministro e do Governo Federal. É preciso uma ação concreta e cada um fazer a sua parte.


OM: Qual é a sua avaliação a respeito do Hospital da Mulher?
FM: O modelo adotado para a gestão do Hospital da Mulher é um modelo privatista que privilegiou uma empresa como a Marca, envolvida com vários desvios. A própria auditoria da Sesap (Secretaria de Estado da Saúde Pública) constatou o desvio de recursos, o pagamento a mais daqueles serviços. Lamentavelmente quem paga com isso é a sociedade. Eu defendo que o Estado assuma aquela gestão. É um equipamento importantíssimo para o Rio Grande do Norte. Atende a 60 municípios. São nove leitos de UTI adulto fechados. É uma coisa criminosa. O governo tem que pagar a empresa, pagar os direitos trabalhistas e assumir a gestão. É uma precarização muito forte para funcionários que se dedicam com muito afinco como percebi lá.
OM: O senhor esperava ter aquela votação para prefeito de Natal?
FM: Eu esperava ir para o segundo turno e ganhar as eleições. A sociedade escolheu outras opções. Eu respeito. Mas eu trabalhei muito nesse sentido para constituir uma alternativa política em Natal. Eu estava convencido que tinha um espaço muito grande ali, mas infelizmente não consegui convencer a maioria da sociedade com as ideias que eu tinha. Eu fui derrotado, mas não me sinto vencido. Tentei convencer uma parte da sociedade e saí da eleição de cabeça erguida. É o que sempre disse e repito: período eleitoral não é para nós que estamos na política partidária subir num palanque para ficar achincalhando e xingando o outro. É para apresentar propostas e projetos. É isso, inclusive, que estou defendendo para 2014, que seja o momento de debater o Rio Grande do Norte.
OM: O PT lá em Natal abriu um processo de expulsão de dois filiados que fazem parte do governo de Carlos Eduardo. Como o senhor analisa isso?
FM: Olha... esse é um problema interno do PT lá de Natal, que decidiu por unanimidade que nós não deveríamos participar do governo de Carlos Eduardo. Foi uma decisão unânime, coisa rara dentro do PT. Mas depois algumas pessoas mudaram de opinião. E quem muda de opinião está desrespeitando o partido. É uma questão interna e certamente terá um processo disciplinar como manda o nosso regimento. Para mim, é coisa passada e resolvida.

OM: Como o senhor analisa a presença de um membro do PT no governo do DEM aqui, em Mossoró?
FM: É a mesma coisa. Assim como há lá em Natal filiados e filiadas que não seguem a orientação, aqui também tem a direção municipal que vai tomar as medidas disciplinares que vai afastar da mesma maneira.
OM: O caminho do PT é lançar uma candidatura própria?
FM: Eu defendo que o PT contribua para a derrota do governo do DEM. Precisamos construir uma alternativa ao governo do DEM no Rio Grande do Norte. Isso está bastante em aberto ainda. Não temos uma candidatura ainda que não tenha galvanizado a opinião do Estado. Por isso defendo que o PT também se coloque como alternativa. O PT tem nome e projeto. Mais do que discutir um nome, eu defendo que 2013 seja um momento de discutir projetos para o Rio Grande do Norte, que está numa encruzilhada. Está numa situação de emparedamento devido ao projeto que aí está em curso. Nós temos uma aliança que se estabeleceu no Rio Grande do Norte com o PMDB, o DEM, PR e o PSDB que vem governando o Estado de uma maneira muito ruim para a sociedade. Eu defendo uma alternativa a esse grupo que aí está. Discutindo desenvolvimento, as políticas públicas, a participação e a gestão, discutindo a relação dos estados com os municípios, com os movimentos sociais, empresários, trabalhadores, mudar o modelo de gestão e tentar fazer todo um esforço para recuperar o tempo perdido. O Rio Grande do Norte está na contramão do Brasil e do Nordeste. Enquanto os Estados vizinhos crescem, nós estamos perdendo oportunidades. O debate em 2014 deveria tratar destas questões, em vez de a gente ficar discutindo A, B ou C, devemos debater a questão mais geral. Quem vai ser contra Rosalba todos nós sabemos. Grande parte da população é contra esse governo. Tenho sentido em todas as cidades esse sentimento de frustração, de se sentir enganado e ludibriado. Somos todos contra Rosalba, mas somos a favor de quê? É a favor de que deve ser o debate para 2013. Eu defendo que o PT apresente projetos e propostas. Estou envolvido com esse debate. O nome é uma questão que virá depois desse momento.
OM: Na formação desse grupo, o PMDB e o PR seriam bem-vindos?
FM: Se romperem com o DEM. Até agora eles são aliados do DEM. Aliás, eles são os sustentáculos do DEM. Quem dá sobrevida ao governo Rosalba é o PMDB e o PR. São eles que sustentam o governo. Essa aliança não começou em 2010. Começou em 2006. Eles têm que se posicionar. Decidir se querem levar o Rio Grande do Norte mais para o caminho do abismo, porque é um processo de abismo administrativo que a gente vive, ou se querem se somar com aqueles que almejam que o Rio Grande do Norte trilhe um novo caminho. Mas essa é uma decisão deles. Qualquer decisão que eles tiverem nós vamos respeitar e fazer um debate público. Eles têm que se decidir porque o governo Rosalba é uma coligação do DEM, do PSDB, do PR, PMN e do PSDB. É um conjunto de partidos que está envolvido num projeto. Eu sou oposição a esse projeto.
OM: Como o senhor avalia essa questão da Petrobras no Rio Grande do Norte?
FM: Na sexta-feira eu tive a oportunidade de conversar com sindicalistas e empresários da área. É uma questão que precisa da ação de todos nós que estamos na política. Eu vou levantar esse assunto esta semana na Assembleia Legislativa esta semana. Acho que precisamos discutir o impacto em cadeia, o efeito dominó que é essa questão do desinvestimento na região. Isso já é sentido no comércio, nas empresas, no turismo porque o arranjo produtivo do petróleo é muito mais ampla. Envolve desde a academia até os empregos diretos, a construção, os hotéis, o comércio, uma série de segmentos. É preciso um olhar de Estado para isso. Vou dar a minha contribuição a esse assunto. É um tema que todos nós precisamos nos debruçar. Esse desinvestimento tem sérias consequências para o Estado.
"O rosalbismo é um plágio do micarlismo"
OM: Temos o senhor e a deputada Fátima Bezerra numa posição de destaque na política do Rio Grande do Norte, mas falta uma renovação no PT. O senhor reconhece isso?
FM: Reconheço. Tanto é que uma das questões que foram muito gratificantes é que tivemos em 2011 um projeto para renovar o PT. Tivemos ano passado a maior chapa de vereador com 30 candidatos a vereador e vereadora em Natal. Nós nunca tivemos isso. Esse é um processo de renovação. Surgiram várias lideranças em bairros populares. Lideranças novas. Foi isso que possibilitou que o PT recuperasse as duas cadeiras que tinha em Natal. Conseguimos isso com chapa própria. Nós podemos fazer uma forte chapa para deputado estadual e federal, o governo, o Senado e fazer um debate de uma forma mais geral. Acho que é possível, sim. Quando nós, que somos referências, vamos atrás há respostas. É uma questão muito localizada que não vai se repetir automaticamente, mas nos serve de lição. O que aconteceu em Natal foi um processo que reuniu discussões nos bairros, na periferia, saímos dos gabinetes e debatemos os problemas da cidade. Podemos formar uma chapa com novas pessoas. Elegemos os dois mais conhecidos do PT, que é o Fernando Lucena e o Hugo, mas temos 28 pessoas que são lideranças e continuam os trabalhos nos bairros. Acredito que esse processo possa ser feito no Estado.
OM: Existe a possibilidade de Eduardo Campos disputar a Presidência. O senhor acredita que isso pode atrapalhar as relações entre PT e PSB?
FM: A eleição de 2014 será nacionalizada. Toda decisão majoritária no Estado e em qualquer outro será tomada levando em consideração o cenário nacional. Será uma eleição verticalizada. É um eleição que será tomada na mesa nacional. O Eduardo Campos, na minha avaliação, é candidatíssimo. Ele vem preparando o espaço para se candidatar, vai montar os seus palanques nos Estados e existe uma busca de setor da oposição tradicional com PSDB e DEM que não vingou, não conseguiu dialogar com a sociedade, que não teve a capacidade disso porque não tem projeto, não tem propostas, porque está voltada para os anos 80 e 90 e perderam o bonde da história. Esse setor antipetista que é órfão certamente apostará as fichas em Eduardo Campos. É cedo para dizer se vai vingar, mas existe uma forte possibilidade de Eduardo Campos ser candidato à Presidência em oposição ao nosso governo. Será uma coisa complicada porque ele participa do nosso governo, mas é um problema interno do PSB e nós vamos respeitar. Isso vai ter rebatimentos no Estado. Qual rebatimento? Não dá para prever ainda, mas certamente nós não vamos embarcar numa candidatura que é oposição ao nosso projeto nacional.
OM: Como o senhor observa essa notícia do rodízio de aulas na rede estadual de ensino?
FM: Eu estou fazendo um levantamento sobre a falta de professores nas escolas estaduais do Rio Grande do Norte. Estamos com esse processo em curso com o sindicato do qual eu faço parte, que é o Sinte. Sinto muita ausência de professores em várias disciplinas. Na sexta-feira eu visitei uma escola em Baraúna. Lá na faltava professor até porque tem uma parte suplementar, mas não tem nenhuma estrutura. A Escola João de Abreu numa situação de muita precariedade. A última reforma foi em 2006. É também uma área que deixa a desejar. Nós vamos fazer esse levantamento, e a sociedade tem que reagir e exigir que os professores concursados sejam convocados. O governo vem protelando essa situação. O governo não tem prioridade com esse serviço.
OM: O senhor se impressiona com as semelhanças entre Rosalba e Micarla?
FM: Eu cunhei uma frase que afirma que existe um processo de micarlização no governo de Rosalba. Aliás, eu digo que o rosalbismo é um plágio do micarlismo. Só quem mora em Natal sabe o que significou o governo de Micarla. O rosalbismo é uma repetição. Não tem um projeto que interesse à sociedade. É um governo muito fechado, autocrático que não escuta ninguém, decidido ali por um comitê muito estreito e sem visão do Estado como um todo. É um projeto que eles vêm tocando e seguindo um rumo que leva a todos nós a um abismo político/administrativo. Eu digo que existe uma micarlização de Rosalba e ela plajeia Micarla. Eu não acho isso bom. Acho muito triste isso. Quem paga o preço é a sociedade.
OM: Mineiro é candidato a deputado federal e Fátima ao Senado?
FM: Sou candidato a defender as bandeiras do Partido dos Trabalhadores. Eu prefiro tocar e colocar meu nome para disputar a reeleição, mas estou à disposição do partido. Já disse que em qualquer discussão que o partido tiver seja para governo, deputado, Senado, meu nome está à disposição. Acho que o PT deve fazer um debate programático sobre isso. Mas estou à disposição para o PT para qualquer caminho que tiver.
Bruno Barreto
Editor de Política
FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE

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