terça-feira, 26 de agosto de 2014

Há 100 anos, italianos fundaram o maior campeão do futebol brasileiro

William Correia
São Paulo (SP)

Em 26 de agosto de 1914, na Rua Marechal Deodoro, italianos fizeram questão de fundar um clube que congregasse sua colônia em São Paulo e focado no futebol. Para dar certo, passaram meses treinando até entrar em campo. Nasceu o Palestra Itália. Nesta terça-feira, a preocupação em ter sucesso completa um século no qual o clube superou até a forçada mudança do nome para Palmeiras e se tornou o maior campeão do Brasil.

Ao longo dos anos, o clube que nasceu para unir imigrantes italianos comprou seu estádio já em 1920 e virou exemplo no país do futebol. Foi modelo de qualidade em campo e, por seus títulos, ganhou a alcunha de campeão do século XX da Federação Paulista de Futebol e de publicações como o jornal Estado de São Paulo e a revista Placar.

Ninguém no País tem mais títulos nacionais do que o Palmeiras, vencedor de oito Brasileiros com a unificação promovida pela Confederação Brasileira de Futebol, de duas Copas do Brasil e da Copa dos Campeões em 2000. Nem agremiações mais antigas, como Corinthians, Santos, Flamengo e Vasco, conseguem superar os números do Verdão.


O auge das conquistas nacionais ocorreu com a única equipe capaz de parar Pelé, que, na verdade, foi incapaz de bloquear quem ensinava e jogava ao mesmo tempo. Se Palestra significa academia em grego, o Palmeiras também ganhou este nome entre 1959 e 1974. A Academia de Futebol simbolizada na inteligência de Ademir da Guia virou, literalmente, sinônimo de Brasil em 7 de setembro de 1965, quando o elenco todo representou a Seleção Brasileira e venceu o Uruguai por 3 a 0 no Mineirão. A Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF, fez questão contar também com o argentino Filpo Núñez, até hoje o único estrangeiro a dirigir o time nacional.

Uma resposta a quem, um dia, se negou a ver o claro valor brasileiro do Palestra Itália. Em meio à Segunda Guerra, o clube foi pressionado a mudar de nome, sob ameaça de perder seu patrimônio. Não bastou virar Palestra de São Paulo. Mas o que poderia ser uma derrota ou fim de um time já vencedor virou a chance de provar que as vitórias não estão no nome, mas no espírito de quem veste a camisa verde.


"Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões", definiu o conselheiro Mario Minervino, na época. Em 20 de setembro de 1942, o clube entrava pela primeira vez em campo como Palmeiras e pisava no Pacaembu carregando uma bandeira nacional. Provou ser ainda mais brasileiro com a bola nos pés. Diante do São Paulo, acusado de ser quem mais pressionou para ter patrimônios palestrinos, impôs vitória por 3 a 1 e viu o rival abandonar o jogo. O Palmeiras já nascia campeão paulista no episódio conhecido como Arrancada Heroica.
Reprodução/A Gazeta Esportiva
A histórica capa de A Gazeta Esportiva sobre a conquista do Palmeiras na Copa Rio em 1951
Nove anos depois, mais uma prova de brasileirismo. Na conquista que hoje a Fifa considera como o primeiro título mundial interclubes da história, o Palmeiras conquistou a Copa Rio em 1951, dando um alento ao futebol do País depois do sofrido vice-campeonato na Copa do Mundo no Maracanã. Mesmo sem a camisa verde, os palmeirenses orgulhavam o Brasil, já que a Seleção nunca foi campeã mundial sem ter um jogador do clube.

Sucesso que explica a sobrevivência como um dos grandes mesmo com o jejum de títulos entre 1976 e 1993. O clube não teve medo de inovar e se juntar à empresa italiana Parmalat, estratégia pioneira que formou verdadeiras seleções em campo, gerou a inesquecível conquista do Paulista de 1993 com 4 a 0 sobre o arquirrival Corinthians na final que eternizou Evair como ídolo e teve como ápice a Libertadores de 1999, um dos poucos títulos que faltavam ao legítimo campeão do século XX e no qual o goleiro Marcos virou santo pelos milagres que executou.

A camisa verde também se mostrou forte fora do gramado. No basquete, Rosa Branca, Edson Bispo, Mosquito e Jatyr, em 1960, e Jatyr, Edson Bispo e Victor Mirshauswka, em 1964, conquistaram o bronze olímpico como atletas do clube, assim como o judoca Henrique Guimarães com o terceiro lugar nos Jogos de 1996.

Se o século XXI é de indignação, incluindo dois títulos de Série B do Brasileiro que torcedores preferem esquecer e a luta contra um novo rebaixamento nesta temporada, a explicação está na incontestável e vitoriosa história palmeirense. E na certeza de que o gigante nascido há 100 anos nunca se diminuiu nem ficará menor diante de qualquer adversidade que aparecer. Será sempre imponente.


Fonte: Gazeta Esportiva.net

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