Tenente Iranildo Félix sofreu atentado em Macaíba
(Foto: Divulgação/PM e Reprodução/Inter TV Cabugi)
O tenente da Polícia Militar Iranildo Félix – suspeito de matar o professor e lutador de MMA Luiz de França Trindade no dia 10 deste mês na zona Sul de Natal – deve ser indiciado por porte ilegal de arma de fogo. Segundo o delegado Normando Feitosa, que investiga o atentado que o oficial sofreu na tarde deste domingo (16), quando ele e a ex-mulher dele foram alvos de disparos numa estrada carroçável em Macaíba, na Grande Natal, o oficial não poderia estar portando nenhuma arma. Na ocasião, o tenente levou um tiro na altura do abdômen, mas o disparo atingiu o colete. Já a ex-mulher, a estudante de Direito Izânia Maria Bezerra Alves, de 31 anos, levou vários tiros na cabeça e morreu na hora.
Após ser socorrido ao hospital, o tenente foi levado à Delegacia de Plantão da zona Sul da capital para prestar depoimento. Lá, ele teve o colete balístico que usava, uma pistola calibre 380 e 44 munições apreendidos. Ao delegado, o tenente disse que reagiu e atirou várias vezes contra os criminosos. “Vou solicitar ao comandante geral da PM a portaria que trata da licença médica do tenente Iranildo. Se ficar constatado que ele não poderia andar armado, ele será indiciado por porte ilegal de arma de fogo”, afirmou Normando.
Ainda de acordo com o delegado, o tenente disse em depoimento que estava com a ex-mulher em um Fiat quando foram surpreendidos por dois homens em uma motocicleta. “O tenente Iranildo contou que estes dois homens estavam numa moto. Os criminosos teriam anunciado um assalto e mandado eles pararem e descerem do carro. O tenente disse também que levou dois tiros na barriga, que atingiram o colete. Então ele caiu no chão atordoado. Daí o tenente disse que um dos criminosos começou a atirar na mulher. Foi quando ele pegou a arma e atirou contra os dois assaltantes, que fugiram”, relatou Normando.
"Contudo, o próprio tenente acredita que o que aconteceu não foi um assalto, tanto que não levaram nada. Ele afirma que foi mesmo alvo de um atentado", concluiu o delegado.
Ao G1, o comando da PM disponibilizou o Boletim Geral da corporação (datado de 9 de janeiro deste ano) que trata da licença médica do tenente Iranildo. Nela, é clara a determinação que proibi o tenente de portar arma de fogo no período em que estiver de licença. Em razão da apreensão da arma do oficial, o coronel Francisco Araújo Silva, comandante geral da corporação, afirmou que a PM irá instaurar uma sindicância para apurar o ocorrido e que o tenente irá responder, administrativamente, por desobediência à norma da corporação.
Trecho do Boletim Geral da PM que trata da licença médica do tenente Iranildo Félix
(Foto: Reprodução)
Atentado e morte
O atentado deste domingo aconteceu no início da tarde, numa estrada carroçável em Macaíba. O oficial foi socorrido com vida ao hospital São Lucas e depois levado para o Pronto-Socorro Clóvis Sarinho. Depois, apenas com hematomas na barriga, foi levado para prestar depoimento na delegacia. A ex-mulher dele, que estava no carro, morreu na hora. De acordo com o cabo Josemário, do 11º Batalhão da PM de Macaíba, os responsáveis pelo crime são dois homens, ainda não identificados, que fugiram em uma motocicleta.
Izânia Alves, 31 anos, ex-mulher do tenente Félix
(Foto: Arquivo pessoal/Facebook)
O tenente e a ex-mulher, Izânia Maria Bezerra Alves, de 31 anos, estavam em um Fiat Uno cinza quando foram surpreendidos pelos suspeitos. Ao tomar conhecimento, do ocorrido, a advogada Juliana Melo anunciou que estava deixando a defesa de Iranildo. "Temo pela minha vida. Não vou mais ficar com o caso", revelou ao G1.
Segundo parentes da vítima, Izânia Maria Bezerra Alves era estudante de Direito e fazia estágio no Fórum de Macaíba.
Segundo atentado
Na última quarta-feira (12) o PM já teria sofrido um atentado quando deixava o Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), no bairro da Ribeira, onde foi submetido a exame residuográfico para identificar a presença de chumbo nas mãos.
“Tentaram matar ele. Ele contou que foi seguido por dois homens numa moto, que emparelharam com o carro dele. Quando percebeu que o cara de trás colocou a mão na cintura, ele jogou o carro em cima da moto. A moto desviou e foi embora”, relata a advogada. Na ocasião, o tenente solicitou ao comandante geral da Polícia Militar, coronel Francisco Araújo Silva uma arma e um colete à prova de balas para se defender.
Araújo informou que uma junta médica afastou Félix das atividades policiais há dez meses, em razão de problemas psicológicos. "O policial foi considerado temporariamente incapaz para o serviço ativo. Ele não pode portar arma de fogo no período em que está afastado", explica o comandante geral da PM. Mesmo afastado, o tenente responde diretamente ao Comando do Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE).
Superdosagem
O comandante geral da PM disse ao G1 que Félix foi socorrido a um hospital particular da cidade após ter ingerido uma alta dosagem de medicamentos. Segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que prestou o socorro, o oficial foi atendido na noite de quarta-feira.
O Samu não revelou que tipo de medicamento o tenente consumiu, nem deu detalhes sobre o estado de saúde dele.
O crime
Trindade foi assassinado a tiros por volta das 9h de segunda-feira (10) na calçada da academia Alta Performance, que fica na Rua Serra da Jurema, no conjunto Cidade Satélite, Zona Sul de Natal. O lutador levou vários disparos de pistola e morreu no local.
Segundo testemunhas, o suspeito de efetuar os disparos fugiu numa moto acompanhado de outro homem.
Professor e lutador de MMA Luiz de França
(Foto: Luiz de França/Arquivo pessoal)
Perícia
O resultado do exame residuográfico realizado por Félix nesta quarta-feira poderá ser questionado pela defesa do oficial. “É um resultado que é considerado discutível, já que ele é um policial militar que manuseia arma com frequência”, explicou a perita Lydice Guerra, subcoordenadora de Criminalística do Itep. Ainda de acordo com o perita do Itep, o resultado do exame deve ficar pronto em no máximo 10 dias. O tenente nega qualquer envolvimento no crime.
“A informação que nós temos é que ele está de licença médica, e que não poderia sair armado. Mas, em casa, ele tem total liberdade de mexer na arma na hora que bem entender”, acrescentou a perita. A arma do tenente, segundo o delegado que investiga o caso, não foi apreendida ou periciada. “A arma dele é uma pistola 380. O calibre das balas que mataram o lutador são de pistola calibre ponto 40”, ressaltou Sílvio Fernando, delegado titular da 11ª DP.
Investigação
Ainda de acordo com o delegado, o policial militar teria visto o tenente logo cedo na Companhia de Polícia Militar do bairro Planalto, Zona Oeste de Natal, utilizando um moletom verde e uma bermuda antes do horário do crime. "O PM não soube explicar por qual motivo o tenente estava lá, já que ele está afastado e é lotado no CPRE (Comando do Policiamento Rodoviário Estadual)", diz. As características batem com o que foi dito em depoimento por de Ademir Júnior.
Academia onde aconteceu o crime
(Foto: Augusto Gomes/G1)
Motivação
O delegado Sílvio Fernando trabalha com duas linhas de investigação até o momento. Uma delas é que ocrime pode ter sido motivado por uma traição. “Podemos estar diante de um crime passional. Temos informações de que o lutador teria se envolvido com a namorada do tenente”, afirmou.
A outra suspeita da Polícia Civil é que um desentendimento entre o PM e o lutador de MMA possa ter motivado o crime. A defesa do PM confirma que os dois se desentenderam, mas alega que o caso não foi grave. "Houve um desentendimento, mas nada muito grave. Não houve discussão mais pesada, nem agressão física", disse a advogada Juliana Melo.
De acordo com a defesa, o policial fez uma aula experimental no fim de janeiro na academia Alta Performance, onde o lutador foi assassinado, porém não gostou do treinamento. A advogada diz que, quando foi para o segundo treino, o tenente decidiu não continuar e por já ter feito o pagamento adiantado da mensalidade, teve o dinheiro devolvido. "A mudança foi para uma academia da mesma rede", disse.
Ainda segundo Juliana Melo, o tenente acredita que foi apontado como suspeito do crime devido ao desentendimento na academia e pelo fato de ser policial. "Os dois não tiveram mais nenhum tipo de contato após esse desentendimento. O oficial inclusive bloqueou a vítima nas redes sociais para não ter mais contato", afirmou a advogada.
'Álibi fraco'
O tenente Iranildo Félix prestou depoimento ainda na segunda-feira e foi liberado em seguida. O álibi apresentado pelo oficial não convenceu delegado Sílvio Fernando. No depoimento, o policial afirmou ter ido a uma outra academia por volta das 8h. No entanto, segundo o delegado, a biometria e as câmeras do local mostram que o oficial da PM chegou às 10h08, logo após o assassinato ter acontecido. "O crime ocorreu antes das 10h", afirma Sílvio Fernando. "Os percursos e os horários informados por ele não batem. O álibi é muito fraco", acrescentou o delegado.
Apesar de não ter sido convencido pelo depoimento, o delegado explica que ainda não tem elementos suficientes para indiciar o oficial da PM.