terça-feira, 24 de junho de 2014

Público gay lota bares e rua do Centro de São Paulo na Copa.


Na Rua Frei Caneca, em São Paulo, Carlos Tisseu e Cristiano Casagrande se beijam durante o jogo de Brasil e Camarões (Foto: Rodrigo Ortega/G1)


24 de JUNHO de 2014 - "Vai, Neymara!", gritavam fãs espremidos no meio da Rua Frei Caneca, no Centro de São Paulo, durante a transmissão do jogo Brasil x Camarões pela Copa do Mundo na segunda-feira (23). O apelido ao atacante brasileiro vem do bom humor do público gay que frequenta os bares da rua. Neste Mundial, o número de clientes aumentou 150%, comemora a gerente Letícia Noemi, de 35 anos.

Sem espaço para as centenas de fãs que vão ver as partidas, dois dos maiores bares da região colocaram telões de frente para a rua. Além dos salões lotados, uma multidão tentava ver o jogo à distância. No meio de carros passando, e quase sem conseguir enxergar a TV, os torcedores não desanimaram. Ao longo do jogo, a torcida do lado de fora crescia.

"Estão gritando até com a reprise dos lances", notou um fã durante a transmissão na Frei Caneca. "A gente é tão emotivo quanto os fãs héteros. Só que nos expressamos mais", analisou o assistente de marketing Douglas Leite, de 28 anos. O jovem reforçou a vibrante torcida em frente a um dos telões.

Segurança

Douglas disse que gostaria de frequentar mais estádios, mas seus pais o proibiam por medo de brigas. "Depois que eu me assumi gay, eles ficaram ainda mais receosos da violência. Mas esse negócio [de segregar] é a maior besteira", afirmou.
Público se reúne na Rua Frei Caneca para ver o
jogo Brasil x Camarões 
(Foto: Rodrigo Ortega/G1)

Os namorados Carlos Tisseu, administrador de 31 anos, e Cristiano Casagrande, enfermeiro de 26, foram ver o jogo na Frei Caneca com amigos. Carlos disse que não acompanha futebol fora da Copa. "A torcida pelo Brasil une as pessoas, e eu fico à vontade torcendo aqui", contou, no meio da rua.

"Há um preconceito de que gay não gosta de futebol. Mas isso aqui mostra que a Copa é para todos", acrescentou o assistente jurídico Eduardo Azevedo, de 32 anos. "E não é só gente que vem para paquerar", revelou.

"O meio do futebol é machista. Mas isso não significa que não existam muitos fãs gays", destacou o dono de bar Fábio Lima, que também celebra o aumento do público nesta época. "Durante os protestos e greves, tivemos prejuízos com a diminuição do movimento. Agora, tentamos compensar", disse o empresário.

Amigos Eduardo Azevedo e Andre Bastos na Rua
Frei Caneca, em SP
 (Foto: Rodrigo Ortega/G1)

'Tem certeza?'

Eduardo contou que seus dois irmãos, um policial e um caminhoneiro, estranharam depois que ele se assumiu homossexual e continuou vendo jogos de futebol toda semana. A dúvida dos familiares não era sobre orientação sexual, mas esportiva. "Isso não é coisa de gay. Você tem certeza de que gosta de futebol?", perguntavam, espantados. "Depois eles entenderam", afirmou.

Yughi Maia, recepcionista de outro bar da Frei Caneca, tinha que avisar a clientes que o estabelecimento já estava lotado 1 hora antes do jogo entre Brasil e Camarões. Sem a tela do lado de fora, ele não podia receber mais pessoas, que acabavam buscando a aglomeração no meio da rua.

Segundo o recepcionista, o movimento grande já era esperado. "Acabou isso de futebol só para hétero. Na final da Libertadores de 2012, estava quase tão cheio quanto nestes jogos do Brasil."



Brasil x Madonna

Em um dos bares da rua, com uma pista de dança no andar superior, era possível ver um DVD da cantora Madonna tocando perto da janela de cima. O filme era reproduzido para ninguém ver, enquanto todos olhavam para o jogo. O Brasil ganhou o "primeiro tempo" da festa, mas a pequena boate já estava preparada para o pós-jogo.

"Não tem uma divisão. As pessoas vêm porque são fãs de futebol e porque querem festa também", ressaltou o DJ Thiago Khaus, que se preparava para colocar o som em outro bar. "Depois do jogo, a gente coloca um 'Beijinho no ombro', aí emenda com outros hits brasileiros, anos 1990, eletrônico", completou.


Rodrigo Ortega

Retirado do G1 São Paulo

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