Sem água... resta a esperança
Roberto Lucena - Repórter
Não adianta abrir a torneira. O gesto simples e corriqueiro para a maioria das pessoas foi subtraído da rotina de milhares de norte-rio-grandenses. Há mais de um mês, o sistema de abastecimento de pelo menos nove cidades entrou em colapso. Com mananciais secos, gestores municipais são obrigados a impor políticas de contingenciamento. Em Ipueira, a 305 quilômetros de Natal, o “vale água” faz o controle do fornecimento de 40 litros de água potável por dia. Enquanto outros municípios correm o risco iminente de enfrentar situação idêntica, a execução de obras de infraestrutura hídrica sob responsabilidade do Estado e União caminha em letargia.
O colapso no abastecimento é uma das consequências mais graves da estiagem que devasta o Rio Grande do Norte desde o ano passado. Inicialmente, a produção agrícola foi limada. Não demorou muito e o gado definhou até a morte. Cemitérios de animais se espalharam por várias cidades. Dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faern) apontam redução de 70% na produção de alimentos e perda do rebanho superior a 40%.
Júnior Santos
O pecuarista José Vieira recolhe água salobra para oferecer ao gado
Sem chuva e sob sol forte, os reservatórios não resistiram à evaporação. O volume d’água caiu vertiginosamente e o colapso anunciado foi inevitável.
Períodos de estiagem fazem parte da história do Nordeste. O primeiro relato de uma seca na região nos remete ao período entre 1583 e 1585. O padre jesuíta português Fernão Cardim registrou “uma grande seca e esterilidade na província. Cinco mil índios foram obrigados a fugir do sertão pela fome, socorrendo-se aos brancos”.
Ao longo dos anos, episódios infortúnios se sucederam. Assim como os períodos de estiagem, o anúncio de obras de infraestrutura hídrica também são periódicos. No Rio Grande do Norte, mesmo com a criação do Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos da Seca, no ano passado, o cenário atual põe em xeque a efetividade das ações. Os efeitos aguardados por aqueles que moram no semiárido ainda não são perceptíveis.
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A construção da adutora do Alto Oeste – obra orçada em R$ 154 milhões e com 288 quilômetros de extensão – se arrasta desde 2010. A última previsão era de conclusão do projeto em julho passado. O titular da secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Leonardo Rêgo, afirma que será necessário mais um mês para concluir a obra. “Nossa expectativa é a de que tudo esteja pronto em outubro”.
Semarh e Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) tentam, mais uma vez, emplacar outro projeto que nunca saiu do papel. Trata-se de uma adutora expressa que ligaria a barragem de Santa Cruz ao açude de Pau dos Ferros. Devido à situação de emergência – Pau dos Ferros tem apenas três meses de abastecimento garantido pela Caern – os órgãos querem modificar o projeto original. A ideia é construir uma adutora de engate rápido. “O projeto está com a Caern. Eles vão enviar para o Ministério da Integração [MI] para tentar assegurar recursos”, explica Rêgo.
O projeto da adutora expressa não foi aceito pelo MI inicialmente. O Governo Federal via a obra como desnecessária, pois a expectativa era a de que a transposição do rio São Francisco resolvesse o problema de abastecimento na região. A transposição não foi finalizada e o cenário piorou. Vale lembrar que a maior obra em curso dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasada no RN. Em maio passado, o titular do MI, Fernando Bezerra, anunciou a licitação dos lotes no Estado para agosto, o que não aconteceu.
Também em atraso, está a licitação para obras de recuperação de quatro grandes açudes no Estado. As intervenções foram anunciadas em maio. O projeto é de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Até o momento, sequer os projetos executivos foram iniciados. “A licitação para essa parte será encerrada próxima semana. As obras devem começar próximo ano”, disse Emerson Fernandes, diretor do órgão.
TRIBUNA DO NORTE
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