A seca reduziu a produção de telhas e tijolos no Rio Grande do Norte e provocou a demissão de ao menos 100 trabalhadores só em Parelhas - maior produtor de telhas do estado. O problema, registrado este ano, foi agravado pela queda no número de encomendas ao setor.
Magnus Nascimento
O RN hoje conta com 186 cerâmicas. O número de empregados nas fábricas chega a 7,4 mil, mas há baixas com queda na produção
Em Parelhas, ao menos oito das cerca de 40 cerâmicas teriam fechado em 2013. Não há um levantamento que mostre o impacto negativo da estiagem em todo o estado, mas as perdas não estão restritas ao município. Em algumas cerâmicas, houve queda de 40% na produção.
“Com a seca, nós ficamos sem água para molhar o barro, e nossos clientes sem capital para reformar ou construir”, diz Francildo Francisco Silva, dono da Cerâmica Bela Vista, que conseguiu manter parte da produção. Manoel Amaro Neto, sócio-proprietário da Cerâmica Heitor Petrolino, viu a produção despencar 40% entre julho e agosto. Doze dos 36 funcionários foram dispensados em menos de dois meses. A produção, que já chegou a quase 700 mil telhas por mês, hoje mal ultrapassa as 400 mil.
Rinaldo Tavares, sócio-gerente da Cerâmica Tavares, também viu a produção cair. O volume diminuiu 20% e hoje não ultrapassa 800 mil peças por mês. Rinaldo afirma que só tem conseguido manter os empregos porque a indústria é abastecida com a água da barragem Boqueirão, localizada em Parelhas.
Reservatório
A queda no nível do reservatório, que tem capacidade para armazenar até 84,7 milhões de metros cúbicos e também abastece outros municípios da região, já preocupa. O nível, segundo levantamento realizado pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (Serhid/RN), já está em 24,76%. O Boqueirão é o sétimo reservatório em pior situação, considerando os 13 incluídos no levantamento no estado.
Francildo Francisco Silva, proprietário da cerâmica Bela Vista, sente no bolso os efeitos da seca. A cerâmica dele era abastecida com água do rio Cobra, em Parelhas, mas com a seca, foi obrigada a alugar carros-pipa. Francisco precisa de 28 carros-pipa para produzir 1 milhão de telhas por mês. Pela água que agora chega de caminhão, ele desembolsa R$ 2.240 todos os meses.
O gasto, que já chega a R$ 6.720, não estava previsto no orçamento e comprometeu as finanças da fábrica. “Estou comprando água de carro-pipa há mais de 90 dias. Por carro, pago R$ 80. Para manter a produção, tive que cortar uma despesa para cobrir essa outra”. O resultado disso foi a demissão de seis dos 56 funcionários. Francildo não sabe até quando terá que pagar carros-pipa e admite que novas demissões não estão descartadas. “No momento, estou estudando como vou fazer isso”.
A situação em Carnaúba dos Dantas não é muito diferente, observa Francisco Dantas Bezerra, que é empresário do setor e presidente da Associação das Cerâmicas do Vale de Carnaúba. “Aqui há 20 cerâmicas associadas. Todas as 20 tiveram que reduzir o número de funcionários e diminuir a produção”.
Bezerra defende a perfuração de novos poços na região e critica a postura do governo. “O governo só se preocupa quando não tem mais jeito. É preciso construir mais barragens, mais açudes. Ações paliativas não vão resolver o problema do setor”. A tendência, afirma Vargas Solinz, presidente do sindicato da indústria cerâmica do RN, é que a situação se agrave. O RN hoje conta com 186 cerâmicas. O número de empregados nas fábricas chega a 7,4 mil.
TRIBUNA DO NORTE
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