quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Natal teve um réveillon sem brilho e com pouca festa

A descontração e o desejo de um 2013 mais próspero dominaram o sentimento das pessoas que se concentraram nas praias urbanas do centro para acompanhar a queima de fogos. Único destino onde a programação de réveillon foi realizada na íntegra, com apresentações musicais e show pirotécnico, a Praia do Meio e a Redinha reuniram cerca de 200 mil pessoas segundo estimativas da Polícia Militar.

Quem chegou cedo na Praia do Meio ou na Redinho conseguiu garantir um bom lugar para acompanhar o espetáculo pirotécnico, caso do policial militar Ricardo Luiz da Silva, 39, que chegou com a família às 20h no mirante da avenida Getúlio Vargas, em Petrópolis. "A vista é especial daqui de cima. Todo ano a gente vem pra cá e se confraterniza assistindo o espetáculo", disse Ricardo.

Para Rita de Cássia da Silva, esposa do policial, diante de todas as dificuldades que Natal enfrentou em 2012, ela deseja que o ano novo seja de renovação. "Desejo muita paz para todos. É lamentável a situação dessa capital tão linda, mas assim como eu desejo um ano de muita saúde para a minha família, desejo também para a cidade, em todas as áreas", declarou.

A família de Fábio Bandeira, 38, também se preparou para receber 2013 de braços abertos. Casado com Flávia dos Santos, de 25 anos, o casal de comerciantes trouxe a pequena Sthefani, de 5 anos, para assistir a queima de fogos da Ponte Newton Navarro. A família Bandeira trouxe toda a provisão necessária: champanhe, cerveja, refrigerante e salgados. "É ano de celebração, ainda mais quando a família receberá um novo membro", disse Flávia, grávida há três meses. 

Segundo o major PM Castello Branco, responsável pelo policiamento da área na Operação Réveillon, a noite foi tranquila nas praias do Meio e do Forte durante toda a noite e madrugada - o registro de ocorrências foi mínimo. Quanto ao trânsito, agentes da Semob e da polícia rodoviária estadual (CPRE) orientavam as pessoas estacionarem o carro distante do local dos eventos.

Emanuel AmaralMaine Letícia foi o primeiro bebê a nascer no RN em 2013
Maine Letícia foi o primeiro bebê a nascer no RN em 2013
Primeiro bebê 

Aos 33 minutos de 2013 nasceu o primeiro bebê do ano em Natal. A pequena Maine Letícia, filha de Lisandra Farias, 19, veio ao mundo antes do previsto no setor de obstetrícia do Hospital José Pedro Bezerra (Santa Catarina), na zona Norte da capital potiguar. 

A mãe precisou viajar por duas horas do município de Guamaré, litoral Norte do RN, até Natal. Para a avó da criança, Laíse Cristine Farias, de 36 anos, Maine chegou trazendo alegria e emoção. "A bisavó dela está lá, em Guamaré, super contente. Acreditamos em um 2013 muito próspero. Esse nascimento traz esperança para um ano de muita paz e vitória", disse.

De acordo com a avó, a previsão de nascimento da neta era para o dia 17 de janeiro; mas Maine Letícia acabou se tornando a primeira criança a nascer no Estado este ano.

Desanimação em Ponta Negra

Comerciantes e turistas já sabiam da possibilidade do réveillon de Ponta Negra ir por água abaixo. Mesmo assim, quando o Governo do Estado anunciou o cancelamento da queima de fogos no início da tarde do dia 31, a decepção foi geral. Muitos não aceitaram o fato de que a festa, há muito esperada, não iria ocorrer. Outros ficaram sem opção: ou aproveitavam a estrutura precária, ou voltavam para casa. Por isso, na noite de ano novo, a praia não ficou vazia. O sentimento dos presentes, no entanto, era de frustração.

Foi o caso do grupo de amigos vindo de Campinas (SP), cuja viagem para Natal estava programada há mais de 6 meses. As parcelas do pacote turístico, pagas com muito esforço, saiam do bolso com prazer - a intenção era virar o ano em uma das cidades mais bonitas do Brasil. "Quando chegamos aqui ficamos muito tristes. Lixo na orla, calçadão deteriorado e nada de programação cultural", lamentou Ana Paula Santos, uma das integrantes do grupo.

O que incomodou mais os paulistas, no entanto, foi o cancelamento da queima de fogos. "Só ficamos sabendo do cancelamento quando chegamos aqui. É triste, mas não vamos deixar que o nosso réveillon naufrague, apesar da decepção", contou Aluízio Almeida, colega de Ana Paula.

Decepção era a palavra comum a todos os depoimentos colhidos em Ponta Negra. Por volta das 20h, ambulantes começaram a montar suas barracas, com poucas expectativas. Seu Ceará, vendedor de bebidas, disse que investiu R$ 2 mil em produtos e mesas para receber os clientes, mas que não alimentava qualquer esperança de lucrar. "Trabalho aqui há 9 anos e nunca vi acontecer nada igual. Se eu soubesse disso antes, não teria tanto prejuízo".

O mesmo sentimento era compartilhado por Ilda Cristina, funcionária de um restaurante tradicional de Ponta Negra. Ao longo do dia, após a notícia do cancelamento da festa, reservas de mesas feitas com meses de antecedência eram canceladas. "Tivemos que baixar os preços, e temos consciência de que será um réveillon perdido", contou Ilda. A reserva no restaurante dava direito ao buffet, bebidas grátis e música ao vivo. Quando os clientes ligaram dizendo que preferiam cancelar e ir para outras praias, já sabia que parte da comida preparada para aquela noite iria para o lixo.

Para o lixo também foi o dinheiro do casal Rogério e Danusa Barbosa, vindo de Mossoró. Desolados com a situação da praia de Ponta Negra, eles disseram ter conhecimento do caos em que Natal havia mergulhado, mas que não estavam preparados para tanto descaso. "Vamos voltar pra casa antes da meia-noite, não dá pra ficar aqui", lamentaram. A medida em que a hora da virada ia chegando, mais pessoas escolhiam Ponta Negra para saudar 2013. Boa parte, no entanto, alegava não ter outra saída. "Gastei dinheiro pra vir até aqui, então vamos celebrar o novo ano aqui, mesmo que não seja do jeito que a gente esperava", contou um casal vindo do Rio de Janeiro. À meia-noite, a queima de fogos ficou por conta dos hotéis, que fizeram a alegria dos visitantes decepcionados.

Um dos motivos alegados para que o Ministério Público pedisse o cancelamento da queima de fogos em Ponta Negra foi o estado do calçadão. Destruída pela força das marés e negligenciada pelo poder público, a estrutura oferecia riscos reais de acidentes à população. Em virtude disso, a Justiça Federal determinou o isolamento de três trechos da área, medida que não foi cumprida nem pela Prefeitura nem pelo Governo do RN, que havia se prontificado em arcar com os custos da festa. Durante toda noite e madrugada, as áreas de risco eram acessadas facilmente pelos visitantes.

No dia seguinte, as críticas de quem apostou na cidade

A virada do ano novo foi percebida de maneira diferente, pela população e por comerciantes, nos três principais pontos de concentração de público na orla urbana da capital potiguar. Em Ponta Negra, na Praia do Meio e na Redinha a única coisa em comum foi o acúmulo de lixo espalhado à beira mar e nas calçadas. 

Principal cartão principal da cidade, tendo o imponente Morro do Careca como moldura, Ponta Negra amargou com o descaso do poder público: comerciantes reclamaram do baixo faturamento, turistas reclamaram da falta de opções, natalenses reclamaram do abandono da praia e todos reclamaram do lixo e da falta de iluminação. "A situação tá complicada, botaram tudo a baixo, não teve festa e foi difícil vender. Espero que neste ano novo façam alguma coisa pela gente aqui", disse o vendedor de cocos Manoel Manuelito, 68, que há 40 anos trabalha na praia.

Na manhã de ontem, a vendedora Josenilda Maria de Oliveira, 37, estava "virada" e pela manhã já aprontava seu ponto para receber os clientes diurnos. "Muitos comerciantes ficaram sabendo do cancelamento em cima da hora, investiram em mercadoria e tiveram prejuízo". Ela explicou que a falta de iluminação para o lado da Via Costeira prejudicou ainda mais o movimento. "Apesar da Prefeitura não ter feito o réveillon, cada um trouxe seus fogos para fazer a festa", resume.

Ionaldo Cardoso de Oliveira, 37, 15 anos trabalhando como vendedor em Ponta Negra foi enfático: "Acaram com o réveillon daqui, e vai dar trabalho reverter. Está todo mundo revoltado, reclamando muito". A dupla de ambulantes Felipe da Costa Ferreira e Paulo Daniel Santos da Silva, ambos de 17 anos, tentaram repetir o êxito do ano passado sem sucesso. "Se o movimento fosse bom tinha vendido tudo. Na virada passada apuramos R$ 2 mil, este ano ganhamos 100 conto", disse Felipe desolado.

A insatisfação também estava estampada no semblante do casal Luizmar Soares Rodrigues, 58, e Vera Lúcia Simas Figueiredo, 53. Eles vieram de Brasília visitar parentes e amigos, e ficaram horrorizados com a situação da praia. "Venho aqui há 30 anos, mas esta foi a última vez. Além da praia destruída, os hotéis da Via Costeira estão cobrando estacionamento (R$ 15) e obrigando a pagar taxa de festa de réveillon mesmo para quem não quer participar", desabafa o comerciário. "A gente gosta da cidade, mas está complicado. Para andar aqui não basta apenas o protetor solar, tem que ter um protetor de nariz pra suportar o mau cheiro do lixo".

Para tentar reverter a imagem de sujeira que domina a paisagem, o gari Josuel Xavier de Lima, 43, que há 25 anos trabalha na Urbana, informou que uma equipe com 15 pessoas chegou às 6 horas da manhã para iniciar a limpeza da praia - serviço que antes era realizado pela terceirizada Marquise. "Hoje (ontem) o bicho vai pegar", disse sem interromper o trabalho. 

Ronaldo Silva, responsável pela equipe da Urbana, acredita que "se tivesse tido festa, com a estrutura que tenho, a limpeza poderia levar até quatro dias para ser concluída". A expectativa, segundo Silva, é que o serviço na orla de Ponta Negra volte a ser feito pelas empresas terceirizadas.

Dois acidentes pela manhã na volta para casa

Nas primeiras horas da manhã deste dia 1º de janeiro, dois carros se envolveram em um acidente relativamente simples no início da Via Costeira em Areia Preta. Desgovernados saíram da pista, mas ninguém foi gravemente ferido. O acidente mais grave aconteceu pouco antes das 8h, na Av. Eng. Roberto Freire, próximo à rótula de acesso à Via Costeira, onde um Peugeot 307 placas MYY 8091 de Natal, conduzido por Leonardo Sales perdeu o controle ao colidir com outro carro, bateu em um poste e capotou. 

Apesar da gravidade do impacto, o motorista sofreu apenas ferimentos leves devido o equipamento de segurança 'airbag' e foi socorrido pelo Samu. O local do acidente permaneceu isolado para que a energia elétrico fosse cortada para a remoção do poste quebrado.
TRIBUNA DO NORTE

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